A maioria dos presentes fez questão de deixar claro o ceticismo quanto à capacidade da autoridade monetária de levar a inflação, que encosta no 6% ao ano, para o centro da meta definida pelo governo, de 4,5%, no início de 2012 por meio de medidas prudenciais e não de uma alta mais forte da taxa básica de juros (Selic).
Os analistas alertaram que o BC está se arriscando além da conta ao apostar em ações não convencionais, como a elevação dos depósitos compulsórios que os bancos são obrigados a recolher em seus cofres.
A desconfiança do mercado se refletiu no boletim Focus, pesquisa semanal realizada pelo BC. Depois de dar uma trégua, os especialistas voltaram a elevar as previsões de inflação para este ano, pois entenderam que a prioridade da instituição passou a ser o crescimento econômico, mesmo que com reajustes de preços acima do desejado.
A estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 5,78% para 5,82%. Mas, ao longo dos próximos meses, o indicador romperá o teto da meta, de 6,5%, para só voltar a recuar no fim do ano — isso, se não houver nenhum contratempo no meio do caminho.
A deterioração das expectativas tem embutido no seu cálculo, segundo analistas, o efeito “Pombini” — uma referência ao apelido dado ao presidente do BC, que é classificado como dovish, termo importado dos Estados Unidos para indicar que um economista é dócil como um pombo.
Com tanta doçura e depois da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na semana passada, o mercado deixou de esperar uma estratégia de combate à inflação mais severa e já prevê um custo de vida pesado para o brasileiro em 2011 e 2012.
“O BC está se arriscando demais em um cenário inflacionário como o nosso. Na reunião, ficou claro que estamos mais para estourar o teto da meta de inflação do que para convergir para o centro dela”, disse um analista que participou do encontro realizado em São Paulo.
Apesar das críticas, Tombini e os diretores que o acompanharam — Carlos Hamilton de Araújo (Política Econômica) e Luiz Awazu Pereira (Normas e Assuntos Internacional) — não reagiram.
Ouviram calados as colocações dos economistas. Hoje, o encontro será no Rio de Janeiro.
Depois dessa reunião, o BC fechará o relatório de inflação.
Segundo economistas, um dos temas mais debatidos ontem foi a desaceleração da economia. Ponderou-se que, para a inflação convergir à meta em 2012, será necessário um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas) próximo dos 4%.
Não à toa, no Focus, o mercado voltou a reduzir as estimativas para o PIB deste ano. Foi o terceiro recuo em três semanas, agora para 4,10%.
“O crescimento será mais fraco daqui por diante. Nas próximas semanas, as projeções dos analistas devem baixar mais”, disse Elson Teles, economista-chefe da Máxima Asset Management.
“O mercado acha que as medidas prudenciais adotadas pelo BC contribuirão para frear a atividade, mas podem não ser suficientes para levar a inflação para o centro meta em 2012”, argumentou.
Monitoramento (Huuummm)
O Banco Central quer ampliar suas fontes de dados sobre a economia brasileira e vai patrocinar dois novos indicadores. A Fundação Getulio Vargas (FGV) ficou incumbida da missão — a instituição fará novas sondagens sobre o comércio e a construção civil. Com esses levantamentos, a FGV afirma que, com as outras pesquisas já produzidas, passará a ter um dos mais completos sistemas de monitoramento da economia brasileira.
Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário