Na manhã da terça-feira, 15, por exemplo, mesmo com a divulgação de um novo bom resultado para o setor varejista em janeiro, os contratos de juros futuros iniciaram os negócios em queda generalizada na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), pressionados pelo aumento das tensões relacionadas ao terremoto no Japão. Ou seja, os investidores esperavam que o Banco Central baixasse os juros mais adiante por dificuldades na economia.
Apenas algumas horas depois, no fim da manhã da mesma terça-feira, com o mercado de trabalho brasileiro tendo gerado vagas muito acima do que o esperado em fevereiro, os juros futuros inverteram o comportamento e passaram a subir. A avaliação do mercado financeiro passou a ser, então, a de que com novas vagas, o consumo seguirá aquecido e o Banco Central terá de fazer novas altas na taxa de juros para trazer a inflação para um patamar mais próximo da meta de 4,5% ao ano.
Os dados da balança comercial brasileira também reforçam esse cenário econômico conflitante. Mesmo com a economia interna aquecida e o real valorizado as exportações do País nos dois primeiros meses de 2011 cresceram 26% em comparação com o primeiro bimestre de 2010.
No acumulado deste ano, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC), a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 1,622 bilhão, o que representa crescimento de 672% na comparação com o mesmo período do ano passado quando foi registrado um saldo positivo de US$ 210 milhões.
Outro índice, o IBC-Br calculado pelo Banco Central, divulgado na quarta-feira apresentou alta de 0,7% em janeiro, na série com ajuste sazonal, registrando o ritmo mais forte de crescimento desde abril do ano passado, quando o indicador avançou 1%. Na comparação com janeiro de 2010 houve alta de 5,1%, com uma aceleração sobre o ritmo apresentado em dezembro que havia sido de 3,7%. Para os economistas, o índice sinaliza um ritmo ainda forte de expansão, embora distante das altas observadas no início do ano passado.
Ou seja, mais um sinal conflitante sobre a economia brasileira.
Em outro caso, diversos especialistas ouvidos pelo iG afirmaram que o Banco Central não agiu errado ao não aumentar os juros no fim de 2010, o que teria gerado pressão inflacionária em janeiro e fevereiro.
Para eles, o BC tomou as medidas cabíveis e manteve a taxa de juros Selic (taxa básica de juros) inalterada nos dois últimos encontros do Comitê de Política Monetária (Copom) do ano passado, com base no cenário e nas informações disponíveis naquele momento.
Em setembro, por exemplo, o mercado financeiro acreditava numa inflação de 5% no fim de 2010. A média das projeções da pesquisa Focus em setembro apontava que o IPCA fecharia 2010 em 5% e em 4,8% em 2011. “Diante disso, não tinha porque aumentar os juros”, afirma o economista-chefe da consultoria LCA, Braulio Borges.
Outra justificativa da autoridade monetária para manter o juro num patamar inalterado foi o rombo de R$ 4,5 bilhões no banco Panamericano, que poderia ter afetado todo o sistema bancário. “Mas o que se viu depois foi um avanço forte dos alimentos no fim de 2010 e o reflexo disso foi que o IPCA encerrou o ano em 5,9% e iniciou 2011 pressionado”, diz Borges.
Luiz Rabi, gerente de indicadores de mercado da consultoria Serasa Experian, concorda com o acerto do BC. “Hoje, olhando o passado, é fácil fazer essa análise”, disse. “Mas o governo não fez sua parte de controlar os gastos e os incentivos adotados durante a crise para evitar a retração da economia foram mantidos, mesmo após o período mais turbulento, o que incentivou muito o crescimento da demanda.”
Porém, o clima na primeira reunião entre a diretoria do BC com economistas do mercado financeiro, na segunda-feira, 14, não foi dos mais amenos.
Os diretores do banco sofreram várias críticas, inclusive de estarem subestimando a ameaça da inflação.
Um dos economistas presentes chegou a afirmar que o BC pode estar dando um peso maior à eficácia das chamadas medidas macroprudenciais no combate à inflação.
Agência Brasil
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