Por causa do processo de valorização do real, o Ministério da Fazenda elevou suas projeções para o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos neste e no próximo ano, segundo informou uma fonte ao "Estado".
Os novos números dessa conta que registra todas as operações de comércio exterior, serviços e rendas do Brasil com o exterior serão divulgados ainda nesta semana pela Fazenda no boletim Economia Brasileira em Perspectiva, documento que o ministério produz sobre a evolução dos principais indicadores macroeconômicos e com projeções para a economia.
Para este ano, a nova projeção de saldo negativo na conta corrente é de US$ 49,5 bilhões, equivalente a 2,49% do Produto Interno Bruto (PIB).
Antes, a Fazenda projetava déficit de US$ 45,9 bilhões (2,3% do PIB).
Para 2011, a nova previsão é de saldo negativo de US$ 58,8 bilhões, ou 2,73% do PIB. No boletim anterior, a estimativa era de US$ 56 bilhões de déficit, ou 2,6% do PIB.
A trajetória de rápida piora nas contas externas do País desde meados do ano passado tem causado preocupações na equipe econômica.
Afinal, o agravamento do déficit externo significa que a indústria nacional não está conseguindo atender os consumires brasileiros e pode estar perdendo espaço para seus competidores estrangeiros.
Além disso, com a constante e rápida deterioração das contas externas, o risco de uma crise cambial no futuro aumenta, o que, se ocorrer, pode provocar, entre outros problemas, uma alta da inflação.
Diferencial.
Para o Ministério da Fazenda, o movimento da conta corrente reflete não só um crescimento mais forte da economia brasileira em comparação com os países desenvolvidos (que gera mais importações do que exportações), mas também o câmbio sobrevalorizado, que estimula não só a compra de bens importados, mas também remessas de lucros e viagens ao exterior.
Essa avaliação explica por que o governo está com uma postura bem mais agressiva no câmbio, adotando medidas para conter a valorização do real.
Para o Banco Central, por sua vez, o diferencial de crescimento econômico é o principal elemento que explica o crescente déficit externo.
(...)
No cenário desenhado pelo Ministério da Fazenda para as contas externas do País em 2010, a conta de viagens internacionais deverá ter saldo negativo superior a US$ 9 bilhões (antes estavam previstos US$ 8,9 bilhões) e a de remessas de lucros e dividendos deverá ter déficit se aproximando de US$ 35 bilhões (no documento anterior estava em US$ 33 bilhões).
Segundo a fonte, essas duas contas têm forte influência da taxa de câmbio valorizada.
PIB.
O ministério está mantendo em U$S 35 bilhões a projeção de ingressos de Investimento Estrangeiro Direto (IED), aquele voltado à produção, em 2010, segundo a fonte.
Para o ano que vem, a estimativa é de US$ 45 bilhões em ingressos de IED.
O boletim Economia Brasileira em Perspectiva do Ministério da Fazenda trará também oficialmente a nova projeção de crescimento da economia para 2010, agora em 7,5%.
No documento anterior, a previsão era de 6,5%.
Para 2011, o governo manteve a projeção de alta do PIB em 5,5%.
Saldo negativo
US$ 49,5 bi
é a previsão do Ministério da Fazenda para o déficit da conta corrente neste ano (equivalente a 2,49% do PIB)
US$ 58,8 bi
é a previsão do Ministério da Fazenda para o déficit da conta corrente em 2011 (2,73% do PIB)
Fabio Graner O Estado de S. Paulo
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