De minha parte, respondi: Qual oposição?
Não consigo bem entender a pergunta!
A questão provocou uma indagação relativa ao que tem sido o exercício das oposições e, mais particularmente, dos tucanos na campanha presidencial.
Com efeito, a oposição não agiu enquanto tal, salvo, agora, de forma atabalhoada, quando a derrota se vislumbra no horizonte imediato.
Uma oposição digna desse nome deveria ter apresentado propostas, mostrado o seu contraste com o governo, expondo o que fez no passado e sugerindo medidas alternativas.
Não deveria ter-se escondido enquanto oposição, fingindo ser uma outra forma da situação.
A oposição tucana alçou Lula a um pedestal, como se ele estivesse acima do bem e do mal.
Colocou-se, numa espécie de servidão voluntária, na posição de continuação do atual governo, interditando-se qualquer crítica ao atual mandatário.
A chiadeira atual de que ele está ameaçando as instituições nada mais é do que o resultado de sua incompetência, o fruto desse reconhecimento preliminar de que a condenação do atual governo não deveria fazer parte de sua agenda política.
É o estertor de uma política que não deu certo!
Nesse sentido, foi forjada a ideia de que Lula não é o PT.
Logo, se ele não é o PT, como sua criatura seria a representante mesma do partido? Ela deveria ser "lulista", e não "petista", se essa distinção fizesse sentido.
Não deveria, pois, surpreender a declaração do ex-ministro José Dirceu de que a diferença principal entre Lula e Dilma reside em que o primeiro é "duas vezes o tamanho do PT", enquanto a segunda é menor do que o partido.
O que disse foi simplesmente uma verdade.
A celeuma, nessa perspectiva, não tem nenhuma razão de ser, na medida em que pode ser constatada por qualquer pessoa preocupada em compreender a realidade tal como ela é.
Outra pessoa tivesse dito a mesma coisa, a controvérsia nem se teria estabelecido nem os juízos de valor sobre a pessoa que a enunciou.
A propaganda eleitoral tucana que trata o ex-ministro como um representante do "mal" é só uma forma de continuar preservando a figura de Lula como encarnando o "bem", procurando dessa maneira atingir a candidata Dilma.
Não dá para entender.
Fica-se com a impressão de que Dirceu é ainda ministro da Casa Civil, ou mesmo candidato, ou, ainda, que Dilma é sua criatura.
A confusão é total.
Criou-se, assim, a ficção de que Lula não é o PT e que as posições mais revolucionárias do partido estariam descartadas.
Não o foram, pois elas continuam animando boa parte de suas tendências.
O período que se abre num mais que provável governo Dilma é o de como o PT vai resolver suas contradições internas.
O que se convencionou chamar de "lulismo", e outros chamam de "pragmatismo" petista, expressa a predominância de correntes internas que optaram por abandonar a ruptura com o capitalismo, visando à instauração de uma sociedade socialista autoritária no Brasil.
(...)
O PMDB, não esqueçamos, faz parte da aliança governamental e pelas boas e más razões não embarcará numa aventura revolucionária.
Quanto mais não seja, para não perder os benefícios que extrai do status quo.
A atual situação é-lhe mais que favorável e tudo fará para que não se altere.
Ele continuará compartilhando o "pão", talvez com mais voracidade.
Há um novo jogo aqui, o das disputas internas do PT, que se tornará mais complexo com a atuação do PMDB, procurando ocupar os mesmos espaços.
As oposições, que sairão derrotadas deste pleito, serão, num primeiro momento, meras espectadoras.
Terão, preliminarmente, de responder à pergunta "qual oposição?", se pretenderem, num segundo momento, um papel de protagonismo.
Denis Lerrer Rosenfield - O Estado de S.Paulo
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